Minha análise publicada hoje no Metro.
Enquanto morrerem civis na Faixa de Gaza e enquanto Israel mantiver o bloqueio do território palestino, o país vai seguir perdendo em uma guerra na qual não tem tido sucesso: a guerra da informação.
É verdade que o Hamas, que tomou a Faixa de Gaza à força em 2007, matando mais de 100 partidários do Fatah, do presidente palestino Mahmoud Abbas, dispara mísseis diariamente contra civis israelenses desde então.
Diariamente, mesmo. Os moradores das pequenas cidades no entorno da estreita faixa de terra banhada pelo Mediterrâneo vivem sob a tensão de sirenes, correria, abrigos antibomba e uma rotina destroçada. Nenhum país viveria com isso.
Mas Israel criou uma resposta para essa ameaça. Tem um sofisticado sistema que intercepta os mísseis do Hamas, com precisão. Aí reside o motivo do baixo número de mortos do lado israelense antes da incursão terrestre.
Com a população protegida pelo Domo de Ferro, como é chamado o sistema, Israel teve a rara chance de marcar um ponto importante no tabuleiro da guerra da informação. Bastava declarar um cessar-fogo unilateral ou ter aceitado e mantido a trégua proposta pelo Cairo. O Hamas não cessaria os disparos, mas eles seriam inócuos. O mundo veria isso.
Ao dar a partida nos tanques e começar a operação por terra, tudo fica mais difícil e mais caro. Há mais mortes, dos dois lados, muitas delas injustificáveis. Os mísseis continuam, como continuariam. E Israel perde a chance de ouro de lançar um acordo com o partido de Abbas, o que enfraqueceria o Hamas ainda mais. Preferiu-se a lógica insana da guerra. (Foto: Baz Ratner/Reuters)
Publicado originalmente no Metro de 22.jul.2014 à pág. 12 (versão web)
Mas você não acha que se Israel tivesse feito isso, os túneis poderiam ser uma ameaça muito séria? (Não é uma pergunta retórica, queria mesmo saber tua opinião)
Eu acho, Heloísa. Acho mesmo. Quando escrevi o texto não tinha noção da extensão da rede de túneis. Agora, tendo, reconheço que Israel precisa desmantelar os túneis e neutralizar a ameaça que, dessa vez, vem por caminhos subterrâneos em vez de chegar pelo ar. Mas ainda me pergunto se uma ação de varredura e destruição dos túneis dentro das fronteiras de Israel não seria mais eficaz (e mais segura do ponto de vista israelense) do que uma guerra ampla e de guerrilha em um território hostil. O que você acha?
Eu acho que na Cisjordânia Israel tem que se comportar como estado, tem que proteger a população. Então sou contra a violencia contra civis.
Em Gaza, é uma questão militar e eu não me sinto à vontade para dizer o que é certo, pois envolve coisas que não conheço e consequencias que não serão na minha pele. Qualquer coisa é ruim, escrevi isso aqui http://helopait.wordpress.com/2014/08/03/um-balanco.
E agora, tenho que terminar com pergunta?
Acho que você acabou fazendo isso, né?! Li agora seu texto e devo dizer que mexeu comigo. Tenho esses questionamentos e dilemas e me incomodou o silêncio, por um lado, e o fervor de raiz cegamente orientado, por outro. É o que nos tornamos: importamos um conflito que não é nosso, não é, e assumimos posições de governo como se fossem de Estado. Lamentável. Mas estou contigo. Faixa de Gaza e Cisjordânia são coisas diferentes e Israel deve lidar com cada uma de forma diferente, também. O Abbas deve ser aproximado antes de se afastar de vez. Vejo essa possibilidade com dificuldade em um governo de direita mantido de pé com – parafraseando um conhecido – “urubus esfomeados”. O Hamas, enquanto braço armado de um grupo político, deve ser afastado antes que se aproxime do Abbas. Não há resposta fácil.