“Por que chega o dia que a folha em branco angustia mais do que a falta de tempo. Por que ninguém volta incólume de Auschwitz” — Katia Hochberg.

Auschwitz

Meu rosto vermelho
reflete o sol
do escaldante verão
e o fervor do ódio
em meu coração.

Vejo enferrujadas farpas
Que outrora enquadraram sonhos
E hoje engasgam a garganta.

As marcas do passado
Transitam
Do braço
Para a mente

Velhos números em preto
Em enrugadas peles de hoje
Dão lugar à jovem memória
de olhos brilhantes
e encanto com a vida

Aquele velho grifo
Deixa o físico
Mas não o virtual

Abro em minha mente
Um espaço elástico
à um velho novo
lote de memória,
que quero lembrar
e esquecer.

Límpido branco das nuvens
De um iluminado céu azul
Somente ele
Devolve-me o infinito

Da falta de ar
Surge o fôlego,
o orgulho,
a liberdade
E uma louca vontade
De estampar no peito
concreta
e ilusória estrela
Amarela
Ou da cor que eu quiser

Transformei
A náusea
Em ânsia
Em urgência

De reinventar
De fantasiar
como faz
a cartola do mágico
como o nariz
que faz o homem palhaço
como a nuvem
que finjo ser de algodão

Embarco
No novo trem
Que segue, eufórico,
sem prumo,
rumo a liberdade
de fazer valer
meus próprios sonhos.

*Este texto, de Katia Hochberg, publicitária gaúcha que vive atualmente em São Paulo, foi escrito após a viagem que ela fez em julho à Polônia, onde visitou os campos de concentração e extermínio nazistas de Auschwitz e Birkenau. A foto que ilustra o post foi feita por ela em Auschwitz durante a visita.

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