Alguns amigos em Israel fazem piada do fato de que, sempre que me afasto do país, algo grandioso ocorre por lá, em geral me obrigando a voltar. Foi assim por várias vezes desde que eu me mudei para Jerusalém, em 2004. Nesse período houve escaladas de violência dos dois lados, o ataque que deixou o ex-premiê Sharon em coma, a eleição do Hamas, entre outros “eventos”.
Não poderia ser diferente desta vez. Estou há pouco mais de três semanas no Brasil, e hoje um atentado em Jerusalém matou um e deixou 40 feridos. Embora tenha sido o evento mais noticiado sobre Israel nos últimos dias, não foi o primeiro sinal de que as coisas podem piorar significativamente por lá.
Apenas na última semana houve o ataque à família em Itamar (um assentamento judaico) em que cinco pessoas de uma mesma família foram mortas. Houve ataques aéreos de Israel que mataram diversas pessoas na Faixa de Gaza.
Fala-se tranquilamente na possibilidade de que ocorra uma terceira intifada. O ataque de hoje, em uma modalidade diferenciada – bomba deixada em mochila em vez de atentado suicida – pode ser uma nova estratégia palestina, depois que a construção do muro dificultou as infiltrações – um mesmo sujeito, já infiltrado ou até cidadão, pode fazer vários ataques.
A terceira intifada, aliás, pode acontecer motivada pela onda das revoltas no mundo árabe, tendo também como ferramentas essenciais os blogs, o Twitter e o Facebook. Uma página com mais de 260 mil “likes” já marcou até data para o levante: 15 de maio. No Twitter, com apenas dois tweets, tem mais de 1,7 mil seguidores.
Venho dizendo que uma marcha pacífica e desarmada de palestinos em direção a Jerusalém poderia pegar Israel de surpresa. Arafat já prometia isso nos anos 1990. Nunca ocorreu. Com o sucesso dos protestos na Tunísia e no Egito, os palestinos podem querer se organizar nos mesmos moldes.
Seria uma “intifada branca”, como disse o Nahum Sirotsky em uma conversa que tivemos há um mês em Tel Aviv. Ela poderia ser mais nociva para Israel que uma revolta palestina armada, seja de suicidas, seja de mochilas-bomba, apesar da aparente contradição. E bem mais producente para os palestinos.
Querido Gaby,
realmente se tem a impressao de que bem quando saímos de perto as coisas acontecem – mas elas acontecem tb quando estamos por perto, e nem sempre percebemos 🙂 mas fora isso, a caminhada pacífica poderia funcionar – talvez por isso ela nunca aconteceu. funcionar para que? talvez pudesse significar ao mesmo tempo que se quer um estado palestino e que se reconhece Israel como seu vizinho – e isso a maior parte das lideranças palestinas, e todas as do Hamas, não querem. E para uma marcha pacífica despencar para a violência, bastará a impressao de que algo pode estar acontecendo para acontecer de fato. entao, cria-se um korban, uma vítima, um heroi – e daí para a intifada propriamente dita, é menos que um piscar de olhos.
dá a impressao que que os palestinos nao suportaram o fato de o mundo árabe ter hoje outras preocupações, e estão gritando ao seu modo “ei, estamos aqui!”. talvez ainda estejam gritando à moda dos velhos costumes, e nao tenham se dado conta de que o próprio mundo árabe está mudando de fase. ou eles mudam junto, ou continuarão a fazer o próprio inferno, e a fazer o inferno de muitos israelenses também, além de reforçar justamente o que nao querem (ou querem?) no poder israelense: Bibi & Cia. Enfim, você é melhor analista do que eu.
um grande abraço e sucesso nesta nova fase!
do amigo,
Uri
Surpreendente: “uma marcha pacífica e desarmada de palestinos em direção a Jerusalém” talvez ser mais nociva!
Até consigo imaginar os palestinos numa marcha pacífica defendendo o sonho de um Estado, mas não sei até que ponto seria pacífica. Imagino que grupos como o Hamas não iriam concordar e agiriam de modo violento, afastando cada vez mais os palestinos de seus objetivos. Mas concordo plenamente que uma marcha pacífica poderia ser muito mais nociva.
Parabéns, e boa sorte no Estadão. 🙂
Espero que esta marcha pacífica fique somente no campo das ideias, pq realmente não acredito em pacifismo.
Adorei o texto e nos vemos dia primeiro.
Abraços
Se a população aprendeu algo com o que acontece nos países vizinhos, acho que os Palestinos deveriam marchar pacificamente dentro de Gaza para derrubar o Hammas, a terceira intifada branca Palestina.
Marchar para Jerusalém pacificamente não seria muito produtivo e como o Uri já comentou aqui, seria o estopim para uma terceira intifada mais parecida com as anteriores… Assim como tem extremistas do lado israelense, tem extremistas lá do outro lado. Eu particularmente acho que o extremo palestino é muito mais sanguinário e disposto a boicotar qualquer chance de paz.